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Arquitetos: Nelson Resende; Nelson Resende
- Área: 86 m²
- Ano: 2016
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Fotografias:Ivo Tavares Studio
Descrição enviada pela equipe de projeto. O conjunto edificado, construído num terreno com uma exposição visual de grande interesse para nascente, tendo a Ria de Aveiro aí localizada, tira partido também da exposição solar maioritariamente a nascente para as áreas de utilização pública, destinando a poente as áreas de serviço e uso interno.
Durante o seu tempo de vida, o edifício foi sendo constantemente transformado e melhorado, tendo havido obras regulares de conservação e nalguns casos até de alteração, sem que tenha havido contudo, em todo este processo, um desenho orientador que permitisse garantir alguma coerência e qualidade no conjunto de obras até agora realizadas.
Neste sentido, a intervenção vem devolver alguma dignidade ao conjunto, ampliando algumas áreas, melhorando a fachada e introduzindo um certo equilíbrio em toda a obra, anulando, na medida do possível, alguns dos aspetos menos positivos que vieram gradualmente ganhando maior presença.
O edifício principal, inicialmente construído com 3 espaços comerciais, autônomos entre si, acabou por ser fundido num único espaço comercial, destinado a restaurante, muito embora as condicionantes estruturais do edifício nunca tenham deixado de sentir-se de forma mais ou menos permanente.
A alteração e ampliação do restaurante visa assumir a reformulação do alçado principal tendo em conta que este se encontra intimamente relacionado com as salas de refeições principais, assim como com o espaço de recepção.
A intervenção tenta reduzir a imposição das condicionantes estruturais existentes e criar uma fusão que permita que apesar de se perceber a nova intervenção no alçado e na área frontal do edifício, de que resulta a ampliação das salas de refeições, não se perca o carácter original do edifício e não se assumam rupturas formais.
A ideia da intervenção passa, por isso, pela mediação de uma imagem contemporânea, consentânea com a nova construção, mas que se encontra alinhada com a pré-existência, evitando uma certa dualidade que resultaria de uma intervenção mais impositiva, menos consciente e atenta ao edifício existente.
A ideia da ampliação resulta também na vontade de introduzir um alçado mais coerente e comunicante com o exterior, no sentido em que procura anular uma certa ideia de somatório avulso de soluções que o edifício foi ganhando, mais ou menos naturalmente, nas duas últimas décadas.
A enorme pala exterior que faz o enquadramento do piso inferior, permite também resolver uma questão de escala do edifício que evita um alçado demasiado estéril e desumanizado, assim como evita igualmente que este se apresente com um carácter monumental - a introdução de um ritmo ditado pela intermitência entre a placagem de granito e as caixilharias exteriores, de correr, não só mantém as características materiais do edifício existente como, através da reinterpretação na forma como são usadas, permite uma acentuação da ideia de desenho, com recursos mínimos.
Já no que tem a ver com o piso superior, apesar de manter-se no mesmo alinhamento vertical do volume inferior, a existência da pala acaba por quebrar a possível continuidade dos planos verticais, assim como, através da introdução de um espelho de água neste elemento, permite também criar uma noção de continuidade entre o espaço exterior à sala de refeições principal e a Ria de Aveiro, localizada a escassos metros de distância.
Esta ideia de permitir que o volume que traduz o nível superior surja dentro de água confere também uma sensação de leveza que reduz a gravidade da massa volumétrica criada, como a liberta do rés-do-chão e a relaciona mais com o infinito - materialmente, a manutenção do reboco branco neste volume acentua também esta mesma ideia de leveza.
Quanto aos espaços interiores, a intervenção centrou-se apenas nos espaços entretanto criados, permitindo que a sua relação com a pré-existência fosse resolvida em termos funcionais mas, simultaneamente, a sua materialização traduzisse uma certa autonomia que poderá vir a ditar orientações para intervenções futuras nos restantes espaços interiores.
A sala do piso inferior mantém um desenho mais expressivo, através do uso de cordas que enfatizam a temperatura e o envolvimento formal que o espaço provoca, numa relação mais direta com os elementos, incluindo o próprio espaço físico exterior.
No que tem a ver com a sala de refeições do piso superior, atendendo à franca relação visual que estabelece com a envolvente, nomeadamente a ria, é possível manter um ar mais depurado do espaço, e optimizar os esforços no sentido de permitir que o tecto, elemento em destaque visual para quem acede ou passa pelo arruamento frontal ao restaurante, possa ele próprio ser visto/lido como uma quinta fachada, tendo sido introduzido um elemento escultórico em madeira, que mantem o registo da temperatura sentida nos vários espaços interiores como enfatiza, pelo seu desenho, um paralelismo com a paisagem ondulante criada pela água.
É igualmente criado um acesso interior ao segundo nível do edifício, com o objectivo de tirar partido do terraço para uso sazonal - atendendo à paisagem que caracteriza a envolvente, será por certo um espaço concorrido, acentuando esta vontade de permitir a comunicação com o exterior, quer visualmente quer mesmo fisicamente.